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Cabe-me a mim manter-te viva (em mim e em nós)

“A morte sorri-nos a todos.”

Já ouvi algures, mas a ti sorriu-te de forma matreira, como se estivesse a tua espera , numa emboscada.

Quero pensar que nisto da morte não há justiça nem injustiça, simplesmente é. Já o sabemos mal nascemos. Só não sabemos o como.

Não vou mais ser egoísta. A tua luta foi muito dura e feia e a dor só tua a sentiste e sabes o que realmente suportaste. E eu sei que foi muita. E se a morte te veio tirar essa dor, então aceito-a.

Quero só pedir-te (porque sei que me ouves):

- DESCULPA pelos dias em que não estive tão presente na tua vida.

- DESCULPA por qualquer palavra menos boa (tivemos as nossa discordâncias)

- DESCULPA por ter insistido tanto (mas tanto) contigo na rua recta final (mas a minha vontade de te ter comigo era mais forte do que a ideia de te perder)

- DESCULPA se não entendi que querias a tua paz.

- DESCULPA.


Perdi mais do que a minha Tia, perdi a minha irmã mais velha, aquela que me ensinou quase tudo.

Perdi aquela que me ensinou as horas no bando de jardim, no Campo das Hortas, num fim de tarde de verão.

Perdi aquela que me ensinou a ler.

Perdi aquela que me fez gostar de escrever.

Perdi aquela que me levou a primeira vez ao cinema

Perdi aquela que me levou a primeira vez a um concerto.

Perdi aquela que fazia os melhores bolos do mundo

Perdi aquela que tricotou muitas camisolas e casacos para mim e não so.

Perdi aquela que me ouvia e aconselhava

Perdi um exemplo.


Viverás em mim e em tudo o que me ensinaste a ser.

Os teus princípios. Os teus gestos. A tua gentileza. Marcaram-me e estarão comigo para sempre.

Vejo-te todos os dias em mim e naquilo que me tornei.

Vejo-te nas músicas do Luís Represas, vejo-te nos poemas do Fernando Pessoa, nas narrativas do Mia Couto e, acima de tudo, nas historias da Anita.

O teu quarto da humilde casa da avó foi o meu (e de muitos) um lugar de fantasia, reunião e ate de recreio.

Lá assisti aos Soldados da Fortuna, à Ana dos Cabelos Ruivos e ao Justiceiro.

Tantas memórias. Sim, dizias tantas vezes que não sabias como me lembrava destas coisas todas, mas lembro! E agora vou lembrar ainda mais!


Que saudade estranha esta.

Tenho de aprender a viver com uma falta física de alguém que viveu comigo toda a vida.

Não terei mais ninguém a chamar-me “Liana!”. Ouço apenas no meu coração agora.

Prometo-te que vou manter vivo o espírito de natal tal como me ensinaste. Não é a toa que éramos as duas chatas que queríamos tudo ao pormenor nesta festa (desde as chávenas, aos guardanapos e ás musicas).

O cheiro da canela, da aletria e rabanadas que tanto me lembram a casa da voa, hão-de agora sempre lembrar de ti.


Só me resta prometer-te ser quem me ensinaste a ser e a fazer-te viver em nós.

Sempre.



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